Descartes
Aula 01
Ciência
à Antiguidade à Ideal Contemplativo
ǂ à Saber como temem si mesmo
Modernidade (a partir do renascimento)
è Ideal de Ciência Operativa
è Propósito do saber científico
Dominação
da Natureza
“Saber
é Poder”
(Francis Bacon)
A Ciência quer por a Natureza a nosso favor
não a aceitando como ela realmente é, mas sim tentando sempre muda-la e
domina-la.
Acompanha tal processo de dominação da
natureza a guinada antropocêntrica da modernidade à
Institui o conceito de sujeito como categoria fundamental do pensamento.
Antiguidade
à
Tese: Para saber como algo é, é
necessário antes saber o que esse
algo é.
à
Precedência da questão “o que é isto?” em relação a questão “como é isto?”
Pergunta: O que é isto? à
Essência
└> à Base = Subjacente
àAté a
Idade Média sinônimo de “essentia”
Na modernidade a palavra será aplicada ao ser
humano
Homem = Sujeito
Aula 02 – Meditações
Resumo da 1ª Meditação
O que Descartes pretendeu com essa primeira
meditação foi instituir um método pelo qual se pudesse chegar ao resultado de
se colocar tudo em dúvida ou, dito de outra maneira, suspender todos os nossos
juízos acerca do que julgamos conhecer.
Juízo de valor significa um determinado
posicionamento da nossa parte quanto ao ser ou não ser, ser justo ou não, ser bom ou mal, ser certo
ou ser errado, ou seja, nos referimos aos juízos morais.
Suspender o Juízo de Valor significa que é um posicionamento que
desconsidera aquilo que se analisa do ponto de vista moral. Se eu, ao ver a
ação de alguém, por exemplo, uma pessoa matou alguém e digo: essa ação é uma
ação má; suspender a ação do juízo significa pegar a ação sem me posicionar
quanto ela ser boa ou ser má, desconsiderar todas as pré-noções.
Descartes não fala sobre suspender essas ações de Juízo Moral, mas
sim de desconsiderar se aquilo que eu penso a respeito do mundo é verdadeiro ou
falso. Ele pretende com essa primeira meditação encontrar o marco zero do
conhecimento.
- A ideia dele é: eu sempre parto de inúmeros
saberes, sempre parto de inúmeros conhecimentos, quando digo que quero começar
a fazer uma ciência, eu necessariamente já pressuponho muitas coisas, pois eu
já tive uma educação, já pertenço a uma certa cultura e ai, na minha educação,
na minha cultura eu já encontrei um monte de conhecimentos que se pretendem
verdadeiros a cerca da realidade, do mundo e de mim mesmo.
Para
se fazer uma ciência absoluta não se pode aproveitar absolutamente nenhum
conhecimento que já fora adquirido e para explicar o porquê disso, ele dá o exemplo de uma casa, pois se
usarmos coisas que já foram usadas antes, essa casa ruiria, assim como o
conhecimento, tudo se despedaçaria.
Sua primeira tarefa seria fazer uma “terra
planagem”, destruindo tudo aquilo que já fosse conhecido e começar tudo de novo
para esse novo “edifício do saber”. Para isso ele tenta criar um método
pelo qual eu consiga me livrar de tudo aquilo que eu já sei, ou seja, criar
um método pelo qual eu possa fazer uma suspenção do Juízo
Generalizada (a mais ampla possível).
Na Idade média as pessoas seguiam a tradição,
ou seja, seguiam os costumes e as regras a risca, já na modernidade manifesta-se
uma crítica a essa tradicionalidade. E o que Descartes vai procurar
fazer é exatamente isso, romper essa tradicionalidade, quebrar esse ritual,
buscando sempre adquirir conhecimentos a partir do zero.
Ele dá o título de “Meditações” porque o
texto é todo escrito em primeira pessoa, o texto é uma narrativa, uma descrição
de experiências de pensamentos que ele fez. Um esforço meditativo dele. E oque
ele está fazendo é deixar isso para nós e nos estimular a ensinar o que puder e
seguir esses caminhos das meditações deixados por ele.
Ele
tenta provar a existência de Deus, não o Deus cristão, mas o Deus cartesiano, o
garantidor da verdade, o Deus da filosofia.
O
objetivo dessa primeira meditação não será instituir alguma verdade, pelo
contrário, ele não quer instituir nada nessa primeira meditação, ele quer simplesmente
por tudo aquilo que se possa colocar no mundo.
No segundo paragrafo do texto, ele
coloca a questão de “como se livrar de tudo aquilo que eu sei?”, pois o grande
problema é não saber o que é ou não verdadeiro. As coisas que no começo
pareceram ser certas, mais futuramente poderão se tornar ideias erradas e
sempre que eu fizer uma conclusão com base em premissas incorretas, o resultado
será igualmente falso, pois o meu raciocínio será incorreto.
Silogismo significa encadeamento de
argumentos de tal maneira que a partir de dadas premissas eu chegue a
conclusões necessárias. Ex.:
“Sócrates é Homem” “Todos os Homens são imortais”
“Todos os homens são mortais” “Sócrates é homem”
_______________________ __________________________
“Sócrates é mortal” “Sócrates é imortal”
Está certo porque
é naturalmente correto. Está errado, pois é naturalmente incorreto.
Falácias
É impossível provar que todas
as coisas que sabemos são falsas, não por serem difíceis de ser provadas, mas
porque já aprendemos uma infinidade de coisas e não teríamos tempo o suficiente
para fazer isso, ou seja, nunca concluiríamos essa tarefa.
Então, para que esse “edifício do saber”
pudesse ser de fato “construído”, sem que nós falhássemos pela infinidade de
coisas já aprendidas, ele tenta instituir um critério para me livrar daquilo
que já sei. Esse critério é: Analisar os princípios e descartar aquilo que
apresentar o mínimo de dúvida, considerar aquilo que apresentar dúvidas como
falso.
Suspenção do Juízo será: deixar de lado,
desconsiderar completamente tudo aquilo que eu puder apresentar uma dúvida.
Descartes
agrupa todos os nossos conhecimentos em 3 grandes categorias e segundo ele, é preciso
atacar a base (o fundamento) dessas categorias. Ele pretende desenvolver a
dúvida hiperbólica (a duvida exagerada, desmedida) e as três Etapas dessa
dúvida hiperbólica são:
· *
Argumento dos Erros do Sentido
· * Argumento do Sonho
· *
Argumento do Gênio Maligno
No
paragrafo três ele vai falar que muitas coisas das quais ele conhece se dão por
meio de seus sentidos, ou seja, tudo aquilo que sabemos através do mundo
exterior só sabemos através de nossos sentidos. Se nós não tivéssemos
nossos sentindos, também não conheceríamos a dúvida, então o sentido é
essencial. Então Descartes ataca isso dizendo:
-
É certo que sempre nossos sentidos estão certos?
É
claro que a resposta é negativa, pode-se usar o exemplo da visão,
quando vejo coisas sobre luzes de diferentes cores, veremos coisas de cores
diferentes, então achar que tudo que sentimos é certo, é uma suposição errada.
Essa
primeira etapa da dúvida metódica, que se chama o argumento do erro dos sentidos, onde é realizada
uma suspenção do Juízo sobre tudo aquilo que eu conheço a respeito do mundo
exterior. Se deixarmos de lado tudo aquilo
que sabemos a respeito do mundo correlacionado com os sentidos, para Descartes,
seriamos ingênuos porque mais uma vez eu estaria me apoiando nos sentidos, que
não são uma fonte segura dos saberes. Então, com essa primeira etapa,
pode-se concluir que o Descartes estaria desbravando/avançando o território
da subjetividade. E o ponto é que há muitas coisas que eu sei, que eu
conheço e que não são sustentadas pelos sentidos. Eu tenho assim uma classe de
saberes que eu posso classificar como Juízos psicológicos, ou seja, não
sei se eu estou feliz ou triste, se eu gosto ou não de alguma coisa, se eu
sinto ou não medo de algo, não sei o que sinto.
Será
que não tenho como eu duvidar dos meus juízos psicológicos?
Posso,
e Descartes argumenta da seguinte forma: Será que já não aconteceu de as vezes
eu sonhar e sonhando, jurar
que aquilo que se dava no sonho era uma verdade e só depois que eu acordasse
desse sonho, eu percebe-se que aquilo que eu havia sonhado não era real? Que no
sonho eu fazia algo que na vida real eu não faria, algo que no sonho eu goste e
na vida real não. Se isso acontece, posso sim duvidar dos meus juízos
psicológicos, pois não conseguimos distinguir o que é ou não real, ou seja, não
é confiável e pela meditação, posso descartar isso.
Entretanto,
mesmo descartando esses meios duvidosos, sobram resíduos, chamados de resíduos
matemáticos, pois não se fundem nos sentidos e nem nos juízos psicológicos.
Essas verdades matemáticas tanto se dando na realidade ou no sonho não são
mutáveis, exemplo o triangulo, que tem 3 lados, sua soma dos ângulos internos é
180º e assim por diante.
Resumindo,
quando suspendo meus juízos acerca dos meus sentidos, dos juízos psicológicos,
eu fico ainda com esse resíduo da matemática.
Suspenção do juízo significa atribuir valor
zero aos conhecimentos que eu possuía.
O Descartes vai dizer sobre a hipótese do gênio maligno o seguinte: vamos
supor que hipoteticamente exista um ser muito poderoso que possa exercer
domínio sobre a minha capacidade intelectual.
Primeira
coisa, ele não está dizendo que existe esse ser maligno, ele esta colocando
meramente isso de maneira problemática. Nós poderíamos provar que não existe um
ser poderoso que pode dominar os nossos pensamentos? Não, não tem como provar
uma coisa dessas. Suponhamos que há uma criatura que pode dominar os meus
pensamentos e que tem prazer em fazer com que eu tenha a experiência da
evidencia (exemplo na matemática) em quanto na verdade eu estou me equivocando,
me enganando. A essa criatura o Descartes dará o nome de gênio maligno, e esse
gênio maligno funciona como se fosse uma espécie de alucinógeno, fazendo com
que vejamos determinadas coisas que não estejam ali, coisas que de fato não
existam.
Ele
vai dizer que se não é possível afastar esse ser maligno, eu não posso dizer
que as verdades matemáticas são inequívocas, que são certas, não posso dizer,
enfim, que sejam sólidos o bastante, então eu posso duvidar deles. Posso operar
uma suspenção do juízo sobre os meus juízos matemáticos, ou seja, nem as
verdades matemáticas são sólidas o suficiente para construir uma ciência
absoluta para Descartes.
Percorrendo
essas 3 etapas das duvidas hiperbólicas ele coloca a seguinte pergunta: Me
parece que eu eliminei absolutamente tudo, não restando nada de sólido depois
de todos esses argumento. Mas será mesmo que não restou nada de sólido, será
que eu não consigo encontrar nada de sólido, nada de indubitável nas verdades
matemáticas? Essa é a questão que ele termina com a primeira meditação.
Ele
está pressupondo um conceito de verdade.
à
Herdeiro do que chamamos de conceito Tradicional de verdade. Primeira
formulação estrita vista em Aristóteles. “Verdade é a adequação entre intelecto
e coisa.”
└>
Opinião ou conhecimento verdadeiro é aquele que se encontra em conformidade com
a coisa que ele quer conhecer.
Um
conhecimento verdadeiro é aquele que se encontra adequado à coisa que ele
pretende conhecer, ou seja, verdadeiro é aquele que se encontra em conformidade
com a coisa que ele pretende conhecer. Exemplo: o quadro, o triangulo. Um
pensamento é verdadeiro quando ele descreve exatamente aquilo que ele queria
descrever e é falso quando ele não descreve exatamente aquilo que ele queria
descrever.
Suspenção de juízo é a desconsideração do
valor de verdade daquilo que eu entendo. Desconsiderar de é ou não verdade
aquilo que eu conheço.
Aula 03 – Meditação 1, 2 e 3
1ª Meditação
Associação
do conceito de verdade cartesiano e a suspenção do juízo. A Suspenção de
juízo é a desconsideração do valor de verdade daquilo que eu entendo, daquilo que
eu sei, isso significa que eu ponho em duvida é se aquilo que eu compreendo
correspondem as coisas que realmente são ou não. Deixo isso em alerto, não me posicionando
quanto a isso.
Conceito
de representação é a base central do pensamento moderno, o Descartes na
primeira meditação simplesmente transforma tudo em simples representação, em
simples conteúdo mental.
Argumento
do erro dos sentidos: eu tenho que desconsiderar aquilo que sei por meio dos
sentidos porque eu não tenha certeza sobre esses sentidos, eles podem me dar
coisas incertas e inseguras. Podendo duvidar sobre o que esses sentidos me
dão.
Se
o mundo é tal qual o jeito que estou percepcionando, ou se não é, me abstenho
de me posicionar quanto a isso. Quando eu faço a suspenção do juízo, eu não
deletei tudo aquilo que eu compreendia ou irei compreender do mundo, mas eu
deixo de me posicionar quanto a adequação ou conformidade entre as minhas
representações, conteúdos mentais (aquilo que eu percebo) e as coisas como elas
são em si mesmas. É certo que eu tenho “N” representações sobre o mundo, sobre
os objetos das matemáticas, sobre o que pudermos pensar, agora se essas
representações correspondem ou não as coisas como elas são em si mesmas ai, eu
já não sei se entram em conformidade com as minhas representações.
O
que a suspenção do juízo faz basicamente é cancelar o valor de verdade das
minhas representações.
Verdade
é a adequação ou, conformidade ou ainda, a correspondência entre os meus
pensamentos e as coisas. Dito de outra maneira, entre as minhas representações
e as coisas como elas são em si mesmas.
Ciência,
para Descartes, tem que ser o conhecimento das coisas como elas são em si
mesmas, ou seja, a verdade absoluta. A exigência da objetividade da ciência
cartesiana é tal que se um critério é fundado na intersubjetividade, é um
critério que não seria o suficiente para a idéia de ciência dele.
Critério
de intersubjetivo de verdade: algo que diz respeita a correlação uns com os
outros. Intersubjetividade é falar “da minha relação com vocês”. Relação que
estabelecemos entre nós (sala). O consenso é um critério intersubjetivo, para
explicar isso um exemplo para o consenso é a definição de copo, que é
semelhante para todos, e para Descartes isso não serve, não é o suficiente.
Quando ele fala sobre ciência, ele não quer que a ciência funcione de maneira
subjetiva, mas sim uma ciência que seja valida de maneira absolutamente
objetiva (onde as pessoas não fiquem somente aceitando as informações, mas
questionem e cheguem a um mesmo consenso).
Então
nessa primeira meditação o que ele coloca em dúvida é se realmente pode existir
uma ciência assim. Porque se eu coloco em dúvida a correspondência entre as
minhas representações e as coisas as quais elas se referem, então eu fico em
duvida se realmente existe uma ciência absoluta ou não. Então ele vai levantar
uma duvida cética (não se pode pressupor a verdade como algo obvio. Uma dúvida
cética é a possibilidade do atingimento da verdade) se existe a possibilidade
de uma ciência absoluta.
2ª Meditação - Foge
do ceticismo ao qual a 1ª Meditação cai.
Na
primeira meditação ele desenvolve um exercício cético e na segunda meditação,
não se pode dizer que é um exercício dogmático, mas pode-se dizer que a segunda
meditação é uma saída do ceticismo, é um compromisso com a possibilidade de uma
ciência absoluta.
No inicio da segunda meditação, o Descartes
faz uma breve recapitulação dos resultados e do trajeto percorrido por ele na
primeira meditação, depois, ele fala sobre um ponto arquimediano, citando uma
anedota a que diz respeito a Arquimedes.
O
ponto arquimediano ao qual Descartes falará, seria sobre um ponto absolutamente
certo, seguro, firme e indubitável. Na primeira meditação é falado sobre a
“terra-planagem” onde tudo é derrubado, já na segunda meditação, é tratado como
será feita a construção do “edifício do saber”.
Arquimedes
era um físico da antiguidade, sendo um dos primeiros estudiosos da teoria das
alavancas que explica que com uma alavanca pode-se aumentar a força. Existia
uma anedota em que o Arquimedes estudando as alavancas, teria dito que se
dessem a ele um ponto fixo fora da terra e uma alavanca suficientemente longa
para ele, esse seria capaz de mover a terra de seu lugar. O Descartes usa essa
imagem para dizer que se ele conseguir um ponto certo, indubitável, ele pode
fazer qualquer coisa, até mesmo uma ciência absoluta.
As certezas absolutas citadas por Descartes
são:
· *“Eu sou, eu existo” à
Certeza relativa à existência.
Representação
imediatamente verdadeira, pois não tem como um “nada” se iludir dizendo que é
algo. Eu nunca tenho como duvidar da minha própria existência. Eu posso duvidar
do que essa representação seja, mas nunca da própria existência, ainda que
estejam me iludindo disso. Posso duvidar de tudo, menos da existência.
· *“Sou uma coisa que pensa” à
Certeza acerca da essência disso que sou (ser que sou)
Representação
imediatamente verdadeira, pois se eu não pensasse, eu não chegaria a esse
questionamento, a essa certeza. Duvidar é uma modalidade de pensamento, e se eu
sou pensante eu posso me dar conta da própria existência.
Certeza
do “cogito”
└> Eu
penso
└> = certeza de subjetividade.
A filosofia moderna é um
mergulho nessa subjetividade, já para os antigos, isso era inaceitável, tanto
que não existem autores que se encaixem nessa modalidade. Na filosofia moderna
há uma tentativa de desbravar essa subjetividade.
Além desses 2 pontos, ele
tratará sobre a distinção/diferença entre alma (que é pensamento, é consciência
não sendo místico ou coisa do gênero) e corpo. Ele sustenta que a nossa
consciência é diferente da nossa estrutura corpórea. Por exemplo, ele é contra
as tendência da fisiologia contemporânea que procura identificar a nossa
consciência meramente a determinado processos celebrais.
3ª Meditação
É onde ele dará a primeira
prova da existência de Deus. Não sendo pela fé que ele faz isso, mas sim por
uma prova racional da existência de Deus. O Deus do Descartes não é o Deus
Cristão, mas sim um Deus dos filósofos.
O Deus do Descartes não é
essencialmente a causa do medo, o Deus do Descartes será o garantidor de que
haja conformidade, adequação e correspondência entre as minhas representações
(conteúdos mentais) e as coisas como elas são em si mesmas.
Descartes precisa montar então
critérios para distinguir se a representação é ou não verdadeira.
A questão então é a seguinte: O
Descartes precisa de um critério que faça com que nossas representações sejam
verdadeiras ou não. E a estratégia do Descartes é “a minha duvida a respeito da
correspondência entre representações e coisas, funda-se naquela hipótese do
gênio maligno. Eu tenho por tanto que afastar a hipótese do gênio maligno e
para fazer isso eu tenho que provar que existe um Deus Verás (oposto do gênio
maligno, de um Deus enganador, aquilo que não se contras, que não me engana,
fica apenas com a verdade). Se eu provo que existe ao invés de um gênio maligno
um Deus Verás, está afastada a possibilidade desse gênio maligno, sendo que
esse Deus para ser Verás deve ser um ente perfeito. Porque algo que seja
perfeito não pode ser algo que não Verás, a vontade de enganar, de iludir seria
uma prova de imperfeição. Então, se for perfeito, é Verás, e se é Verás não
pode, portanto, fazer com que quando eu tenha a experiência da evidencia, a
ela, não corresponda nada verdadeiramente.”
A hipótese do gênio maligno
dissociou evidencia de verdade. A hipótese do gênio maligno
servia na 1ª Meditação como a colocação em cheque das verdades matemáticas. As
verdades matemáticas são dotadas de evidencia, podendo ser que eu tenha a
experiência da Evidencia e essa seja uma ilusão colocada pelo gênio maligno, e
a evidencia deixou de valer como critério de verdade. Com a prova da existência
de Deus, o que Descartes vai fazer é recuperar a evidencia como critério de
verdade.
Então a necessidade de
apresentar uma prova da existência de Deus é para recuperar a evidencia como
critério de verdade. Dai quando ele tiver um pensamento evidente, ele pode
dizer que está certo de que ele é verdadeiro, ainda que eu não consiga sair da
subjetividade para chegar a coisa em si mesma, se eu tive a experiência da
evidencia em algo, eu posso confiar que eu não estou me iludindo quando isso se
dá comigo.
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