sábado, 16 de junho de 2012

Resumo parcial do Livro - Fundamentos da filosofia


Resumo parcial do Livro - Fundamentos da filosofia
(Paginas 134 – 137)
71.    O problema do conhecimento se antepõe ao metafísico.
 É no pensamento moderno que se propõem, antes de apresentar o problema metafísico, outro problema prévio: o problema de como evitar o erro; se há de descobrir para aplicá-lo de sorte não cometer erros; da capacidade que tem o pensamento humano para descobrir a verdade; se o pensamento humano pode ou não descobrir a verdade; dos caracteres que um pensamento haja de revestir para ser verdadeiro. Ou seja, uma série de problemas que os filósofos denominam de "teoria do conhecimento".
A característica do pensamento moderno é que começa por uma epistemologia, por uma teoria do conhecimento. E começa por aí porque o pensamento moderno germina depois de um longo passado histórico. Surge e se desenvolve no século XVI. O pensamento humano não é nunca, em nenhum instante, a-histórico, fora do tempo e do espaço.
O pensamento moderno tem que começar por uma teoria do método, por uma teoria do conhecimento. E os primeiros alvores do pensamento moderno são constituídos por estudos sobre o método. Antes de Descartes existe um certo número de obras sobre o método. Existem ensaios de filósofos anteriores a Descartes que tomam como principal objeto de meditação a procura e a excogitação de um método apropriado. O inglês Bacon de Verulam escreveu o Novum Organum,  um novo método mais ou menos complicado para evitar os erros e descobrir a verdade.
Assim, o problema se recoloca para Descartes em como descobrir verdade? E por que pergunta Descartes como descobrir a verdade? Pois pergunta porque as verdades que até agora vinham valendo não valem mais; revelaram-se falsas. Houve, para duvidar delas, motivos poderosos. Por conseguinte, o que vai interessar agora ao pensamento é achar uma só verdade, mas que seja absolutamente certa, da qual não se possa duvidar. O que interessa ao pensamento moderno é a indubitabilidade; é que aquilo que não possa ser posta em dúvida.

 

72.   A dúvida como método.

Descartes busca uma verdade que não possa ser posta em dúvida. Ele converte a dúvida em método aplicando-a como uma peneira e então exige das verdades não somente que sejam verdadeiras, mas também que sejam certas. Se preocupa somente em buscar a certeza, e o critério de que se vale é a dúvida. A dúvida se converte, pois, em método; e o que se tenta aqui descobrir é uma proposição que não dubitável.
Neste plano (de não se interessar pela quantidade do conhecimento, mas de obter mesmo que seja um só, mas indubitável) a marcha do pensamento cartesiano não pode ter mais que um destes dois resultados: ou encalhar na esterilidade completa, ou chegar a descobrir algo completamente novo: o imediato. Ele tinha que descobrir o imediato, ou fracassar na sua empresa. Com efeito, descobriu o imediato.

73.   Existência indubitável do pensamento.

Um conceito é verdadeiro quando o que o conceito diz e o que a coisa é, coincidem. No sistema aristotélico nossa relação com as coisas é mediata, porque está fundada num intermediário e esse intermediário é o conceito (O conceito nos serve de intermediário entre nossa mente e as coisas. ‘"Mediante" o conceito conhecemos as coisas). Como nosso conhecimento era mediato, o conhecimento aristotélico era sempre discutível, porque sempre nos cabia discutir se o conceito se ajustava ou não se ajustava à coisa. Visto que a verdade do conceito consistia em ajustar-se o conceito e a meditação.
O que Descartes busca é um conhecimento que não ofereça o espaço à dúvida. Que coisa há tal que não necessite eu um conceito entre mim e ela? Que coisa há capaz de ser conhecida por mim com um conhecimento imediato, com um conhecimento que não consista em interpor um conceito entre mim e a coisa? Pois bem: o único elemento capaz de preencher essas condições de imediatismo é o pensamento mesmo, nada mais. Se eu considerar que todo pensamento é pensamento de uma coisa, eu poderei sempre duvidar de que a coisa seja como o pensamento a pensa. Mas se eu dirigir meu interesse e meu olhar não à relação entre o pensamento e a coisa, mas à relação entre o pensamento e eu; se tomar o próprio pensamento como objeto, então aqui já não poderá penetrar a dúvida. A dúvida pode instalar-se no problema da coincidência do meu pensamento com a coisa; mas não pode e nem tem morada possível no pensamento mesmo. O fenômeno de coincidência, o pensamento mesmo, é indubitável. O dubitável é que o pensamento coincida com a coisa que está atrás dele. Mas no pensamento mesmo a dúvida não tem sentido.
Descartes responde as perguntas da metafísica:” que é o que existe? quem existe?” da seguinte forma : existe o pensamento; existo eu pensando; eu e meus pensamentos, porque a única coisa que há para mim de imediato é o pensamento; por isso não o posso pôr em dúvida. O que posso pôr em dúvida é o que está além do pensamento; o que não atinjo mais que "mediante" o pensamento. Mas aquilo que sem mediação alguma posso ter na mais íntima posse é algo do qual não posso duvidar; não posso duvidar de que tenho pensamentos. Se fizermos a hipótese do gênio maligno dedicado a enganar-me, e que se me engana é porque penso. Se os pensamentos que tenho forem todos eles falsos, é certo que tenho pensamentos. Eis aqui o problema da indubitabilidade, ou seja o problema da teoria do conhecimento; e logo a procura traz a verdade indubitável e o obriga a fazer um giro de conversão para encontrar a única coisa indubitável, a única rigorosamente indubitável, que é o pensamento mesmo. Posso pensar que estou sonhando, que nada do que penso é verdade; porém, é verdade que eu penso. Eu posso estar enganado por um gênio maligno; porém, se estiver enganado, os pensamentos falsos que este gênio introduziu em mim são pensamentos, eu os tenho.
A filosofia moderna dá uma resposta ao problema da metafísica. ”Quem existe? Eu e meus pensamentos. Então, por acaso o mundo não existe? É duvidoso”. Isso é grave porque agora acontece que se exige de nós uma atitude mental completamente diferente da natural e espontânea. Espontânea e naturalmente todos acreditam que as coisas existem, por exemplo: a lâmpada existe, porque eu tenho o conceito de lâmpada em geral. Todos acreditamos que o mundo exista, ainda que eu não exista. Porém, agora se nos propõe uma atitude vertiginosa, nada menos que isto: a única coisa de que estamos certos que exista sou eu e meus pensamentos; e que é duvidoso que além dos meus pensamentos existam as coisas. Esse problema para a filosofia moderna é gigantesco, porque agora a filosofia não tem mais solução senão tirar as coisas do "eu".

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